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Rudolfo Lago* |
“Ou as violações foram feitas por militantes voluntaristas sem autorização das cúpulas, novos ‘aloprados’, ou, muito pior, fez parte de uma estratégia oficial”
Há algumas semanas, conversando com um ministro muito próximo do presidente Lula, eu comentava que o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), para animar sua tropa, vinha lembrando que em 2006 houve um momento em que as pesquisas indicavam vitória de Lula no primeiro turno. Depois, Geraldo Alckmin, o candidato tucano, recuperou-se e chegou ao final apenas três pontos percentuais atrás. É bem verdade que no segundo turno Lula recuperou-se e Alckmin teve menos votos do que tivera no primeiro, mas para Sérgio Guerra essa é uma outra história.
O ministro de Lula primeiro disse que Sérgio Guerra só podia dizer para os seus algo assim mesmo. Mas concordava que os dados eram verdadeiros: Alckmin de fato tirou em
O segundo fator, na avaliação desse ministro, foi o escândalo dos “aloprados”, a história do dossiê feito para prejudicar José Serra na eleição para governador em São Paulo. Com o envolvimento de um assessor do senador Aloizio Mercadante, ficou impossível para o PT negar alguma participação. E Lula atribuiu o episódio a um bando de “aloprados”. Ou seja: a um excesso de voluntarismo de alguns, forma de assegurar que a operação não tivera aval oficial do partido ou do comando das campanhas.
Voltemos a 2010. É difícil imaginar que o novo escândalo, da violação de sigilo fiscal da filha de Serra, Verônica, e do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas Pereira, entre outros, tenha efeito eleitoral semelhante ao que se viu com Lula em 2006. Pelo menos, até agora não se verificaram reflexos. Mas, diante do desenrolar dos fatos, é preciso tomar emprestada a expressão cunhada por Lula nas eleições passadas: alguém “aloprou” de novo. E foi um bocado mais longe: violação de sigilo fiscal em larga escala é algo muito grave.
Desde sempre, há uma parcela da esquerda socialista que pareceu apreender dos ensinamentos de Maquiavel apenas uma frase: “Os fins justificam os meios”. Em nome da “grandeza” e da “nobreza” dos planos e realizações, vale tudo para derrubar os inimigos. Então, nos vemos na seguinte situação: ou as violações foram feitas por militantes voluntaristas sem autorização das cúpulas, novos “aloprados”, ou, muito pior, fez parte de uma estratégia oficial (algo que não se pode afirmar, pelo que se sabe até agora).
Qualquer que seja o caso, porém, ele revela um descaso absoluto com a obrigação de manter em sigilo dados privados dos cidadãos. Uma obrigação evidente do servidor público que lida com eles. Quer dizer: se for da conveniência dos novos “aloprados”, eles acessam os dados de qualquer pessoa e usam essas informações sabe-se lá com quais propósitos. A servidora dona do computador de onde foram acessados os dados de Eduardo Jorge, Adeilda Leão dos Santos, diz que deixava a sua senha anotada num caderninho que ficava aberto na sua mesa. E que todo mundo na repartição entrava e usava à vontade a sua senha. Como assim? A mulher lida com dados sigilosos dos contribuintes brasileiros e acha normal todos os seus colegas usarem sua senha? Nem pergunta para quê?
E o presidente Lula, em desafio num comício, questiona: “Onde está esse sigilo que ninguém viu?” Como assim? Não está comprovado pela própria Receita Federal que o sigilo foi quebrado? O que ele queria? Que, a essa altura, todo mundo no país já soubesse quanto Verônica Serra ganhou e quanto pagou de imposto? Por essa lógica, Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda não deveriam sofrer punição por terem violado o sigilo do painel do Senado na votação da cassação de Luiz Estevão. Afinal, pela lógica do presidente, eles viram, mas não divulgaram.
Além da forma banal como se manipulam dados privados de cidadãos, o que também impressiona na história toda é a total falta de necessidade dessas ações. Por razões que já foram expostas nesta coluna, Dilma Rousseff, lidera a corrida presidencial com folga. Porque ela representa a continuidade de um governo bem avaliado e que promoveu mudanças sociais e econômicas realmente importantes. Antes da história da violação, Serra estava completamente sem discurso. Sua campanha chegava a dar pena. Os que fizeram essa lambança agora, distantes ou próximos dela, não tinham a menor necessidade de empanar a campanha de Dilma, tenha isso efeito eleitoral ou não.
*É o editor-executivo do Congresso em Foco. Formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília em 1986, Rudolfo Lago atua como jornalista especializado em política desde 1987. Com passagens pelos principais jornais e revistas do país, foi editor de Política do jornal Correio Braziliense, editor-assistente da revista Veja e editor especial da revista IstoÉ, entre outras funções. Vencedor de quatro prêmios de jornalismo, incluindo o Prêmio Esso, em 2000, com equipe do Correio Braziliense, pela série de reportagens que resultaram na cassação do senador Luiz Estevão
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Marco Aurelio (07/09/2010 - 10h25)
Esse negócio de aloprados, virou moda?Até onde , sr. Presidente Lula, vamos ter que aguentar de novo, essa colocação , eu sou petista, mas não tô afins de ficar aguentando esses desaforos não.Tome uma decisão, senhor, já está enchendo o saco, de ficarem nos acusando de maior partido da história, de escandâlos e corrupções, qual é?E não adianta , mais , vir com esse papo de que a oposição, vai se afogar, daqui a pouco isso vai sobrar bem no meio da sua cara, ou então na cara da srª Dilma, como o Senhor, mesmo dizia na época do Sindicato dos Metalurgicos " Hoje eu tô bravo!
cidadao indignado (07/09/2010 - 08h59)
Acho incrivel a imprensa não poder opinar sobre as questões, por força de lei elitoral. Assim, temos que ouvir desmentidos atras de desmentido, e tudo fica por isso mesmo. Como poderemos saber o que de fato ocorreu? que motivações ouveram? a quem cabe investigar, ou seja a Policia Federal, sob comando do Ministerio da Justiça, e assim, subordinado às ordens do Governo, não investigará nada. Se estou errado, o que dizer sobre o caso do "dolar na cueca" e/ou "o dinheiro p/compra dossie dos aloprados"? passaram-se apenas 04 anos e até agora nada. Com referencia ao caso do dolar na cueca, tem novidade sim: o a flagrado transportando os dolares, declarou na receita que o dinheiro era seu, pagou os impostos e esta esperando a devolução do dinheiro. Nosso País é uma mãe, não precisa declarar origem dos valores e tudo fica bem. Qdo tivermos uma consciencia de País sério, acredito que mudaremos essa total inversão de valores, implementado mais fortemente, na gestão desse ultimo Governo.
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