Os políticos e a religião

Quem poderia pensar em buscar o apoio popular 
se proclamando antiético, desonesto e imoral? 

Em uma pesquisa realizada no mundo inteiro (http://pewglobal.org/files/pdf/258.pdf) , o Brasil é, dos países latinoamericanos, aquele onde é mais forte a opinião de que “acreditar em Deus é uma condição necessária para a moralidade”. Ou seja, as pessoas concordam com a idéia de que quem não acredita em Deus também não tem integridade ou honestidade, e provavelmente é imoral.

Esta associação religiosidade/moralidade supera os 80% nos países árabes, na maior parte da África e em países pobres como Indonésia, Paquistão, Bangladesh e Malásia. Na América Latina, estão em torno de 70% o Peru, a Bolívia e a Venezuela.(1) 

O Brasil é o país latinoamericano onde essa crença é mais forte: 83% das pessoas consideram a religião condição necessária da moral. Nas camadas de baixa renda isso é ainda mais marcante: só 13% das pessoas não fazem essa ligação.

Entende-se, portanto, que os políticos procurem demonstrar alguma forma de religiosidade, ou pelo menos não alardear posições de ateísmo ou agnosticismo explícito. Não há nenhuma falsidade nisso, apenas respeito ao fato de que, para a maioria da população, “crença em Deus” é sinônimo de integridade, de ética. E quem poderia pensar em buscar o apoio popular se proclamando antiético, desonesto e imoral? Portanto, nada demais se Fernando Henrique, Dilma ou Serra não queiram ser estigmatizados com a pecha de ateus. 

Mas há maneira e maneiras de contornar essa situação. Reconhecar a religião como questão de foro íntimo, proclamar a liberdade de crença e a não ingerência do estado em questões religiosas, respeitar o consenso social atingido (e consagrado na legislação) em questões éticas como o aborto ou a homossexualidade, manifestar apreço e consideração pelas diferentes formas de religiosidade da população ou mesmo se associar a eventos populares de caráter religioso  é uma coisa. Alardear uma falsa religiosidade de forma puramente eleitoreira é algo completamente diferente. 

E inútil, porque o povo reconhece facilmente, e rejeita, esses santinhos ou santinhas do pau oco, convertidos de última hora.
Rejane Xavier 
Brasília, 15/10/2010
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(1) http://pewresearch.org/pubs/1119/global-middle-class