segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Senhora Presidenta

  
  
“When I use a word,” Humpty Dumpty said, in a rather a scornful tone, “it means just what I choose it to mean—neither more nor less.”  
  
“The question is,” said Alice, “whether you can make words mean so many different things.”    

“The question is,” said Humpty Dumpty, “which is to be master      that’s all.”




  A nossa suprema mandatária seria também a Comandanta-Chefa das Forças Armadas? Se terminar seu doutorado, poderá chegar a livre-docenta?

As feministas que me perdoem, mas a moda dos neologismos de gênero me faz mal aos ouvidos. Agradecer a “todos e todas”, e ter de agora em diante de chamar Dilma Rousseff de “presidenta” é demais para mim. 

Sei que a língua evolui, e que bons gramáticos (e “gramáticas”?) defendem o neologismo, inclusive o meu preferido, o professor Cláudio Moreno. Mas acredito também que a língua tem a sua lógica, que a evolução não deveria contrariar. 

“Presidente” é quem preside, como estudante é quem estuda, ouvinte é quem ouve, postulante é quem postula, comandante é quem comanda, palestrante é quem profere uma palestra, e assim por diante. De agora em diante, para sermos politicamente corretos e coerentes, deveríamos usar a desinência do feminino para todas essas palavras? 

Os locutores de rádio começariam seus programas com “caros ouvintes e ouvintas”; os professores diriam “meus estudantes e estudantas”, os cargos eletivos teriam “postulantes e postulantas”?  Os seminários seriam abertos com a apresentação dos “palestrantes e palestrantas”? E a nossa suprema mandatária seria também a Comandanta-Chefa das Forças Armadas? Se terminar seu doutorado, poderá chegar a livre-docenta?

Como dizia Humpty Dumpty, as palavras significam aquilo que quem manda quer que elas signifiquem. Já nos bastam os exemplos dos eufemismos que diluem o sentido de ações como crime, roubo e prevaricação, que se transformam em erros, mal-feitos e travessuras.

Será que não poderiam nos poupar de mais esta forçação de barra bem-pensante? Ou bem-pensanta?

2 comentários:

cida disse...

Já dizia o nosso Pssoa em 'A nossa magna lingua portugueza':
A nossa magna lingua portugueza
De nobres sons é um thesouro.
Seccou o poente, murcha a luz represa.
Já o horizonte não é oiro: é ouro.
Negrou? Mas das altas syllabas os mastros
Contra o ceu vistos nossa voz affoite.
O claustro negro ceu alva azul de astros,
Já não é noute: é noite.
(Fernando Pessoa,26-8-1930)
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E dizemos nós:

E enquanto mais besteira não se alevanta,
cuidemos de lembrar que o nome do animal
que a tudo isto corresponde
não é ante, é anta!

Rex Cogitans disse...

Sou eu, Rex, acrescentando uns comentários copiados de leitores da FSP:
A Dilma, ao chamar-sede "presidentA", tem um precedente histórico não lisonjeiro. O imperador Sigismundo, do Império Romano-Germânico, ao presidir em latim o Concílio de Constança sobre o cisma papal usou erradamente a palavra "schisma" no gênero feminino. Ao ser chamado a atenção,respondeu: "Ego sum rex Romanorum et super grammaticam" (Sou reidos romanos e acima da gramática), exigindo que a partir de então a palavra passasse a ser feminina em latim.
1. G W B (22) em 03/11 às 11h55
Chega a dar inveja dos ingleses. Lá, eles tem "the King's English", o inglês do rei, como padrão. Aqui, temos "o portugueis do presidente" e agora parece que vamos ter "o portugueis da presidenta" ou, talvez, "o portugueis da prezidentcha"...
2. Mitridates Dionísio (247) em 02/11 às 00h26
A "Dilma, Super Grammaticam", não passará. Parabéns Folha. A opinião de Thaís sobre "inclusão de gênero" não convence (vocês têm "gênero"? Eu tenho sexo). A regra é absoluta: palavras derivadas do particípio presente do latim NÃO SE FLEXIONAM (viajante, presidente, ouvinte). O exemplo que dá, "infanta", não cola, pois é um antigo castelhanismo.Menos ainda dizer que "presidenta" soa estranho por ser a primeira. E asgerentes, são as primeiras? "Caesar non supragrammaticos"!
3. Carambola Atômica (381) em 01/11 às 21h29
É claro que é "presidente"! Há muito tempo existem mulheres em cargos de chefia em bancos. Todas sempre "gerentes". Nunca ouvi falar de uma "gerenta". A própria Dilma foi "gerente" do PAC, e nem se lembrou de pedir para ser "gerenta". Portanto, "presidente Dilma". E um abraço às estudantes, às agentes da polícia, às assistentes de enfermagem etc.