sábado, 22 de janeiro de 2011

Dejà vu

Pois é. Como diz o geógrafo Magnoli (ver o post abaixo), " as precipitações torrenciais e os deslizamentos em encostas de morros fazem parte da dinâmica climática e geomorfológica normal das serras do Sudeste brasileiro." A falta de previsão é incompetência e descaso. Imaginem se isso tivesse acontecido no governo FHC, o escândalo que a oposição estaria fazendo!

KENNETH MAXWELL - Desastres

A perda de centenas de vidas devido a deslizamentos de terra causados pela força de temporais não é o primeiro desastre desse tipo a acontecer no Brasil. E, muito provavelmente, não será o último.
Todo mundo disse que essas enchentes na zona serrana do Rio de Janeiro são as piores na história brasileira. Mas, na realidade, não são. Lembro bem de um desastre parecido e também com pouca reação entre os poderes públicos.
Em janeiro de 1967, um temporal de três horas de duração em Piraí, Rio, trouxe duas vezes mais chuva que a registrada ao longo de 24 horas neste mês nas cidades de Petrópolis, Nova Friburgo e Teresópolis.
Situada na via Dutra, a principal rota entre Rio de Janeiro e São Paulo, a serra das Araras, onde está Piraí, foi devastada por deslizamentos de terra.
Cerca de 300 corpos foram recuperados, mas mais de 1,4 mil pessoas desapareceram. A Dutra ficou intransitável por quatro meses. Na cidade do Rio de Janeiro, três edifícios de apartamentos desabaram no bairro de Laranjeiras, causando 110 mortes.

Naquele janeiro eu vivia no Rio. Depois da chuva, a cidade sofreu blecautes por meses.
Eu precisava subir duas vezes por dia os 10 andares de escadas até meu pequeno apartamento no topo de um edifício na esquina da rua Figueiredo Magalhães com a avenida Nossa Senhora de Copacabana. Era uma esquina notória, conhecida localmente como "a esquina mais barulhenta do mundo". Na época, costumava imaginar como alguém poderia ter certeza disso.
Em 1967, Zé Kéti conquistou o primeiro prêmio num festival de músicas de Carnaval, com "Máscara Negra", um samba-marcha-rancho que compôs com Hildebrando Matos. O sambista Zé Kéti estava no auge da fama. Desde 1964, ele interpretava o favelado em "Opinião", o espetáculo de música e teatro que liderava a resistência contra os militares.
Posteriormente, surgiu uma disputa amarga quanto à autoria de "Máscara Negra", e Zé Kéti terminou se mudando para São Paulo, onde viveu durante os anos 80, antes de retornar ao Rio, em 1994, e retomar sua carreira. Ele morreu aos 78 anos, em 1999. "Máscara Negra" e muitos de seus outros sambas, entre os quais "Opinião", estão hoje disponíveis no YouTube.com.
Em meio àquela época desastrosa de chuva, morte e deslizamentos de terra, Zé Kéti ao menos nos legou algumas composições memoráveis de música popular brasileira.
Se alguns de seus sambas expressavam a nostalgia por Carnavais passados, como "Mascara Negra", outros continuam a ser, como "Opinião", intensa e abertamente políticos, exatamente como ele pretendia: "Que eu não mudo de opinião/ Daqui do morro/ Eu não saio, não."

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