terça-feira, 14 de junho de 2011

Cultura geral

Dilma, Gleisi, Ideli
Fernand Leger, Three Women

Com o inusitado trio de mulheres poderosas no foco da atenção, a imprensa tem lembrado um esquecido poema de Manoel Bandeira, que aqui transcrevo, em benefício da cultura inútil:


Balada das Três Mulheres do Sabonete Araxá

As três mulheres do sabonete Araxá me invocam, me bouleversam, me hipnotizam.
Oh, as três mulheres do sabonete Araxá às 4 horas da tarde!
O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!
Que outros, não eu, a pedra cortem
Para brutais vos adorarem,
Ó brancaranas azêdas,
Mulatas cor da lua vêm saindo cor de prata
Ou celestes africanas:
Que eu vivo, padeço e morro só pelas três mulheres do sabonete Araxá!
São amigas, são irmãs, são amantes as três mulheres do sabonete Araxá?
São prostitutas, são declamadoras, são acrobatas?
São as três Marias?
Meu Deus, serão as três Marias?
A mais nua é doirada borboleta.
Se a segunda casasse, eu ficava safado da vida, dava pra beber e nunca mais telefonava.
Mas se a terceira morresse... Oh, então, nunca mais a minha vida outrora teria sido um festim!
Se me perguntasse: Queres ser estrela? queres ser rei? queres uma ilha no Pacífico?
um bangalô em Copacabana?
Eu responderia: Não quero nada disso, tetrarca. Eu só quero as três mulheres do
sabonete Araxá:
O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá!


Manuel Bandeira (M. Carneiro de Sousa B. Filho), professor, poeta, cronista, crítico e historiador literário, nasceu no Recife, PE, em 19 de abril de 1886, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 13 de outubro de 1968.  Face à grave doença que o atormentou a vida inteira, poderia ter vivido pouco: mas faleceu aos 82 anos, deixando uma das maiores obras poéticas da moderna literatura brasileira.
Fonte: Academia Brasileira de Letras, onde Manuel Bandeira ocupou a Cadeira 24, eleito em 29 de agosto de 1940.

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