sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Good news is good news

Os jornalistas costumam citar a máxima "good news is bad news" para justificar a ênfase dos noticiários nas tragédias, crimes, acidentes e toda sorte de desgraças: elas atingem de alguma forma um amplo público, fogem do esperado, trazem uma alta carga de emoção, enfim, correspondem, mais do que o insípido quotidiano da normalidade, aos "critérios de noticiabilidade".

Mas os jornais britânicos, em face dos recentes distúrbios em Londres e outras grandes cidades, têm apresentado uma equilibrada visão dos dois lados da moeda. A violência dos desordeiros e a reação das comunidades atingidas, que se organizam em mutirões de limpeza e reconstrução e recolhem milhares de libras de doações particulares para ajudar moradores e lojistas atingidos. Os assaltos, incêndios e saques não foram coisa de bairros pobres, ou de imigrantes, contra zonas ricas ou grandes cadeias de lojas. Barbearias, oficinas, pubs, pequenas lojas de bairro foram arrasadas. (Ver por exemplo http://www.thisislondon.co.uk/standard/article-23977403-only-25p-left-but-i-will-start-again-for-my-girls-and-new-family-of-neighbours.do)


Foto:Amy Weston
Brancos, negros, árabes, indianos estiveram igualmente dos dois lados, atacando ou sendo atacados. A mulher fotografada pulando da janela de uma casa em chamas era uma imigrante polonesa, há menos de seis meses na Inglaterra.  São as mesmas pessoas, às vezes da mesma família, que se encontram de um lado e de outro. A mãe de uma moça que participou dos saques viu a filha na televisão e avisou a polícia. Vizinhos se organizam, pelo Facebook ou pelo Twitter, para identificar e apontar os agressores.

 Há muito ainda para entender e explicar em relação aos explosivos acontecimentos desta semana. Nem conflito racial, nem luta de classes - talvez um derramamento do exacerbado desejo de consumo aliado à sensação de que enfim tudo era possível, de que nada poderia se interpor a vontade de ter e o poder de pegar e levar?  Os "normais", nesse caso - os certinhos, as pessoas que procuravam defender suas lojas, suas casas -, eram atacados como desmancha-prazeres, incômodas testemunhas das regras que se tratava exatamente de romper.

Do ponto de vista da cobertura da mídia, em todo o caso, restou um saldo positivo: a conclusão de que boas notícias são também... boas notícias.



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