Sinceramente, considero-me uma iniciante com muito a aprender sobre geopolítica e estratégia. Mas se os grandes luminares da área escrevem tais sandices começo a ficar preocupada com os rumos da política mundial
Este autor, o jornalista norte-americano Robert Kaplan, é considerado um
dos gênios da geopolítica americana.
De março de 2008 até a primavera de 2012, ele foi membro sênior do Center for a New American Security , em Washington. Em 2009, o secretário de Defesa, Robert Gates, nomeou Kaplan para o Defense Policy Board, um comitê consultivo federal para o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Em 2011, a revista Foreign Policy apontou Kaplan como um dos "100 maiores pensadores globais" do mundo.
Kaplan não é propriamente um defensor dos ideais democráticos.
Em dezembro de 1997, seu artigo “Was Democracy
Just A Moment?” sustentava que a democracia que então se espalhava pelo
mundo não levaria necessariamente a mais estabilidade. E de acordo com o U.S. News & World
Report, “o presidente Clinton ficou tão impressionado com Kaplan, que
ordenou um estudo conjunto das agências sobre esses temas, e concordou com as
conclusões de Kaplan.
O artigo de onde extraí o excerto abaixo é o
famoso "The Coming Anarchy",
de fevereiro de 1994, na revista Atlantic
Monthly.
Kaplan cita aí, aprovadoramente, o trabalho de um
colega, Homer-Dixon - chefe do Programa
de Estudos sobre Paz e Conflito da Universidade de Toronto -, segundo o
qual o Brasil estaria entre os países ameaçados de cair em ditaduras (governos
autoritários, não democráticos), face a uma crescente escassez de recursos
naturais. E os referidos recursos, citados por eles, seriam água, terras
cultiváveis, florestas e pesca! "Democracia é problemática; escassez é mais
certa", asseguram.
A desinformação de tais análises é espantosa,
assim como inexplicável é o crédito a elas concedidos nos grandes centros de
pensamento geopolítico. Transcrevo dois
parágrafos:
"War foreign policy will one day be seen
to have had its beginnings in an even bolder and more detailed piece of written
analysis: one that appeared in the journal International
Security. The article, published in the fall of 1991 by Thomas Fraser
Homer-Dixon, who is the head of the Peace and Conflict Studies Program at the
University of Toronto, was titled "On
the Threshold: Environmental Changes as Causes of Acute Conflict."
Homer-Dixon has, more successfully than other analysts, integrated two hitherto
separate fields—military-conflict studies and the study of the physical
environment.
In Homer-Dixon's view, future wars and civil
violence will often arise from scarcities of resources such as water, cropland,
forests, and fish. Just as there will be environmentally driven wars and
refugee flows, there will be environmentally induced praetorian regimes—or, as
he puts it, "hard regimes." Countries with the highest probability of
acquiring hard regimes, according to Homer-Dixon, are those that are threatened
by a declining resource base yet also have "a history of state [read
'military'] strength." Candidates include Indonesia, Brazil, and, of
course, Nigeria. Though each of these nations has exhibited democratizing
tendencies of late, Homer-Dixon argues that such tendencies are likely to be
superficial "epiphenomena" having nothing to do with long-term
processes that include soaring populations and shrinking raw materials.
Democracy is problematic; scarcity is more certain.
Um comentário:
D. comentou: "Realmente, uma ideia esdrúxula a de que faltará água e comida no Brasil. Mas isso leva a minha tese favorita: o que no futuro algum país agressivo pode querer tomar do Brasil nunca será o petróleo do pré-sal, mas água e terra colonizável, que o Brasil tem em abundância, e que serão escassos no mundo. Só de exemplo: o Amapá tem 150 mil km2 e meio milhão de habitantes; Bangladesh tem o mesmo território e 150 milhões de habitantes. O Brasil precisará ter meios de dissuasão para enfrentar tais ameaças: não só força militar, mas também alianças internacionais adequadas."
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