Praticamente encerradas as apurações: venceu Dilma, como previam as pesquisas.
Não foi uma derrota acachapante da oposição. Os votos estão matematicamente divididos quase ao meio (56 x 45 %), e geograficamente se observa uma clara preferência do Sul e Centro-Oeste, junto com São Paulo, pela oposição. Dilma e o governo venceram no Norte (com excessão de Roraima) e Nordeste, e em Minas e no Rio, no Sudeste.
Ainda não está claro, na vitória de Dilma, qual foi o peso do PMDB e de outros aliados que sairam fortalecidos nas eleições estaduais, como o PSB. PSDB e DEM governarão mais de 70 milhões eleitores, nos estados que conquistaram; o PMN, da coligação serrista no Amazonas, governará mais 2 milhões. PT, PMDB e PSB governarão cerca de 20 milhões cada um. A questão federativa ressurgirá com força quando tiver de ser definida a distribuição dos recursos do pré-sal.
Administrar as heterogêneas hostes governistas pode ser um desafio tão grande ou maior do que lidar com uma oposição "punhos de renda" como tem sido a do PSDB e do DEM. O Congresso, majoritariamente constituído por parlamentares da base aliada do novo governo, tem entretanto um perfil conservador, e pode se mostrar recalcitrante diante de reformas que mexam com interesses de setores econômicos fortes ou venham de encontro aos "valores tradicionais" da sociedade.
Dilma, na melhor das hipóteses, significará mais do mesmo, para o melhor - uma condução econômica sem sobressaltos, uma política social compensatória - e para o pior: o estado politicamente aparelhado, a leniência já demonstrada com os "mal-feitos" dos companheiros, as tentativas de controlar a imprensa.
Sem o carisma e o jogo de cintura do presidente que sai, a nova presidenta tem grandes desafios pela frente: um país ainda desigual, uma base aliada indócil, a derrota eleitoral nas regiões de maior dinamismo econômico, um panorama internacional incerto, as próprias expectativas de avanços das classes emergentes, estimuladas a um ritmo de consumo dificilmente sustentável.
Pelo bem do Brasil, temos de torcer para que ela tenha um bom desempenho. Pelo bem da democracia, precisamos que surja uma oposição mais atuante e vigorosa, que além de cobrar e fiscalizar também proponha e construa alternativas, viabilizando a saudável alternância que distingue as melhores democracias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário