sábado, 30 de outubro de 2010

Paradoxo: os indecisos decidem

O último debate dos candidatos na TV foi conduzido pelas perguntas dos eleitores indecisos. Afinal de contas, paradoxalmente, são os indecisos que decidem o resultado desta eleição, quando a diferença entre os dois candidatos, considerada a margem de erro, pode ser menor do que o percentual daqueles que se declaram indecisos ou afirmam que votarão em branco.

Não consegui assistir o debate inteiro. Como quase todo o mundo, estou mortalmente entediada com a conversa morna das campanhas oficiais, contrastando com a feroz guerra de denúncias e boatos, travada à sombra dos panfletos e do anonimto da internet. Minha escolha não foi feita com base nem em uma nem em outra: pesou o que eu conheço dos dois lados, por ter participado de alguns momentos e por vir acompanhando, há anos, a trajetória dos partidos e dos nomes em disputa.

As duas perguntas que consegui acompanhar, ontem, poderiam dar margem a colocações incisivas e análises interessantes, mas as respostas ficaram no nível pobre da tentativa de agradar o eleitor.

A primeira moça atribui à baixa remuneração a ineficiência do serviços públicos e a má vontade com que a população é tratada quando recorre a eles. Nenhum dos candidatos comparou a média dessas remunerações com as do setor privado, nem lembrou que para cada vaga oferecida no setor público existem dezenas ou centenas de interessados, que naquele momento não desdenham a remuneração oferecida. Ninguém sugeriu que o serviço público precisa de um choque de gestão e de formas de remuneração flexíveis, que levem em conta a produtividade e o mérito. O funcionário público, como o privado, precisa de treinamento e de uma carreira que contemple possibilidades de desenvolvimento profissional. E também de cobranças e de punições, quando for comprovado que presta serviços com negligência ou incompetência, e trata mal os usuários, sejam eles estudantes, pacientes, comerciantes, empresários, vítimas da falta de segurança, etc.

A segunda pergunta foi sobre garantia de renda para o agricultor. De novo, uma oportunidade para analisar as relações entre a agricultura familiar e o agronegócio, as transformações da relação cidade-campo, o impacto das novas tecnologias na produtividade, a influência do câmbio e da concorrência de produtos estrangeiros... E o que significa "garantia de renda"? Seguro agrícola? Imunidade frente às leis da oferta e da procura? Que garantia de renda têm os demais setores produtivos? Se você monta uma confecção, um pet shop ou uma oficina mecânica, você tem garantia de renda?

Depois dessa, fui dormir. Não sei se os indecisos decidiram alguma coisa, só vou saber o que vai ser do nosso país no domingo à noite. Pelo que deu para ver nos debates, talvez não faça muita diferença.

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