A apresentação que preparei para a ESG tratou da primeira dessas consequências, relativa à nossa posição. Mais tarde montarei outra, sobre o tamanho do nosso país.
Este blog não permite a inclusão de arquivos ppt, então coloco apenas as fotos, resumindo os textos intermediários e os comentários. Em resumo, defendi que embora o reposicionamento cartográfico proposto (em que o Brasil apareceria no centro do mapa, e o Polo Sul estaria na parte de cima do mesmo) tenha evidente impacto geopolítico, ele pode ser defendido por razões puramente geográficas ou espaciais.
O universo de Aristóteles (século IV aC) |
Portanto, nosso planeta, girando no espaço infinito, pode ser visto e fotografado do Norte para o Sul, do Sul para o Norte, do Leste para o Oeste, e assim por diante.
Mapa romano
Orbis Terrarum (Orientação Leste-Oeste) |
O globo com o Brasil no centro, voltado para o Sul. |
Para quem está na superfície do globo, há um abaixo (o chão) e um acima (o céu), e isto varia conforme o lugar da Terra em que estivermos. O curioso é que todos nós, brasileiros por exemplo, e nossos antípodas (chineses ou japoneses, não sei bem) estamos de pé: não há ninguém de cabeça para baixo no globo.
Porém há uma notável diferença: o céu sobre nossas cabeças será diferente se estivermos no hemisfério Norte ou no hemisfério Sul. As estrelas e constelações que vemos em cada um deles são diferentes. Aqui do Sul, nunca veremos a estrela polar; lá do Norte, eles nunca verão o Cruzeiro do Sul.
Vejamos então o que fazer quando queremos representar o globo terrestre num superfície plana - uma folha de papel. Se tivermos coragem de recortar com uma tesoura o nosso globo, vamos obter alguma coisa assim:
Mas normalmente não precisamos destruir um globo para fazer um mapa: fazemos uma projeção do globo no papel. Conforme o ângulo do qual é feita essa projeção, algumas partes ficarão maiores, outras menores (como numa foto: um lápis no primeiro plano pode ficar mais alto do que um edifício no horizonte). Se projetarmos do Norte para o Sul, o Norte ficará maior e estará situado acima. Se fizermos o contrário, o Sul ficará maior e estará acima.
Aqui a posição está alinhada com o Sul, mas o ângulo ainda favorece o Norte em termos de tamanho. A Groelândia aparece do tamanho do Brasil, quando de fato é 4 vezes menor. |
Qual é a forma certa?
Nenhuma, ou as duas. Nenhuma é "A" certa; as duas são certas. Cada uma destaca (deixando-a maior) uma parte do planeta, e cada uma reflete a orientação de um dos hemisférios em relação ao céu. Se o Norte está em cima, é porque o globo foi fotografado numa posição tal que o céu do hemisfério Norte estava acima, com sua estrela polar e suas constelações boreais. Se o Sul está em cima, é porque a Terra foi visualizada de um ângulo em que o céu austral estava sobre as cabeças das pessoas, ou seja o mapa é uma projeção a partir do hemisfério Sul.
Colocar o Sul na parte superior dos mapas tem constituído, além de uma opção geográfica mais adequada para a representação do nosso hemisfério, também uma afirmação política.
Mapa de Al-Idrisi, 1154 |
Mas não devemos achar que os cartógrafos árabes ou dos séculos XVI e XVII estavam combatendo a hegemonia capitalista ou européia (muitos eram europeus) quando representavam os mapas orientados para o Sul. Entre inúmeros exemplos temos:
Mapa do veneziano Marini, 1512. O nome 'Brasil" aparece pela primeira vez num mapa. |
Nicolas Desliens, 1567 |
Um comentário:
Orientação entre o local e o global:
Para a navegação aérea, o jeito e adotar somente a convenção mundial das bússolas com a direção Norte correspondente ao angulo de zero grau (ou 360 graus) que se faz coincidir com a indicação marcada na agulha para que a seta aponte no sentido Sul-Norte. Isso tem que valer para os dois Hemisférios.
Para a ORIENTação local, com o apoio do nosso copo e observando-se o céu no Hemisfério Sul, é que não dá certo apontar o braço direito para o nascente do Sol, como é ensinado em geral nas escolas. A alternativa que interessa - por ser prática - é a de apontarmos o braço esquerdo para o nascente. Isso nos deixa na posição conveniente para olharmos o Cruzeiro do Sul à noite e, nesse caso, poder se SULear. Por outro lado, no Norte, já convém apontar o braço direito para o nascente de modo que à noite, se olhe na direção da estrela Polar para se NORTEar. (Ver www.SULear.com.br)
Marcio D'Olne Campos
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